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Recomeços


Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Recomeços são assim. Precisamos fazer coisas que já deveríamos saber mas, há tanto tempo que não lidamos com elas que, de repente, até parece a primeira vez. Começos são excitantes, cheios de promessas, de otimismo. Os recomeços, no entanto, trazem, junto a tudo isso, algumas dúvidas, alguns medos e culpas.

Mas e se a existência for, em essência, um eterno recomeço? Tenho, tatuada no meu braço esquerdo, o seguinte axioma "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei.". Essa frase é de Alan Kardec e, embora eu não seja um kardecista praticante, como a minha mãe, ela me parece perfeitamente correta. Morremos e renascemos o tempo todo.

Quando passamos a ver a vida de outra forma, algo de nós morreu e algo novo nasceu no lugar da consciência que tínhamos antes. Quando deixamos um hábito, um relacionamento, um emprego, é como uma morte, um fim, um término, para que outra coisa nasça no lugar. O final é sempre sucedido por um começo. Os extremos se tocam. E os recomeços são como renascimentos, nos convidam a progredir sem cessar, sem nos deter e sem olhar para trás, porque não é naquela direção que estamos indo.

Qual foi seu último recomeço? O que você precisou deixar para ter a oportunidade de tentar outra vez? O que morreu? O que nasceu no lugar? É difícil perceber logo de cara. Muita informação, muita novidade, muita coisa para digerir ao mesmo tempo. O que era certo, não é mais. O que era seguro, torna-se imprevisível. E o que fazia todo sentido, já não tem o menor cabimento. É desnorteador.

Mas, aos poucos, a gente vai aceitando que há coisas que não precisam de uma ação nossa. É exatamente o contrário, a melhor coisa é fazer nada ou, só o que está logo ali, esperando por nós e não forçar demais. Esquecer a preocupação de acertar o tempo todo, abrir mão do controle. Antes o feito do que o perfeito. Melhor ser feliz do que estar certo. Só que aquela pergunta dentro de nós ainda exige uma resposta: "Para onde você está indo?"

Bate uma ansiedade, uma inquietude, aquela vontade de fazer as coisas acontecerem logo. É uma bobagem, claro. A história de Odisseu, que precisou de anos para aprender a dura lição de que "O homem sem os deuses não é nada", nos mostra isso. Nos ensina que é preciso entender que tudo o que construimos com base apenas nas nossas vontades, no nosso entendimento e nos nossos desejos, é ilusório. Não passa de uma armadilha do ego.

Os recomeços nos dão a oportunidade de olhar para dentro e para cima, de perguntar: "Eis-me aqui! O que você espera de mim?". E não importa qual o nome do seu Deus, ouvir a resposta e entendê-la, nem sempre é fácil. Ter paciência e esperar por ela é quase difícil demais. Mas, o mais desafiador é seguir o caminho depois de descobrir a chave do enigma, acreditar apesar de tudo.

Não sei quantas vezes na vida você precisou recomeçar. Eu já recomecei muitas vezes e espero nunca parar. Começar, terminar, recomeçar e progredir sem cessar, essa é a lei. Até aqui, entendi que, não importa o que aconteça, quando tudo estiver escuro demais, quando você não puder ver o caminho à sua frente, o jeito é se concentrar apenas no próximo passo. E mesmo que pareça não ter chão, confie e dê o próximo passo. Não olhe para trás, não é para lá que você está indo.

 
 
 

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Since 2021. por Rannison

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