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Hired - Capítulo 21: Network - Conceitos Básicos


Vamos falar do que é importante ter em mente a todo o tempo quando tratamos de network. Há parte dos nossos esforços que, sem esses entendimentos básicos, não teriam efetividade alguma e poderiam até mesmo ser prejudiciais. Isso porque a tendência natural da maioria das pessoas é pensar em termos de interesse próprio.

E com isso quero dizer que a nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro é, via de regra, bastante limitada. Se não for o seu caso, ótimo. Mas, mesmo assim, observe com atenção os tópicos a seguir. Estou seguro de que eles te deixaram mais consciente e, em alguns casos, mais confortável, para acionar sua rede de relacionamentos.


Mão Dupla

Network é uma via de mão dupla. Às vezes você dá, às vezes você recebe. Tenha isso em mente. Receba com gratidão e dê com generosidade. Não se coloque em uma ilusão de superioridade ou inferioridade, nunca. Faça o seu melhor por quem confiar em você. Seja honrando a indicação de alguém com a sua melhor performance ou fazendo a melhor indicação que puder quando for solicitado.


Mate Seu Ego de Fome

No mundo em que vivemos, muita gente tem vergonha de pedir ajuda. Não faça isso. Mate seu ego de fome. Exatamente, mate ele de fome. Quando precisamos de ajuda e não pedimos, por vergonha, timidez, medo, orgulho, estamos sendo, na verdade, tolos. Estamos dando ouvidos ao ego e, normalmente, perdendo uma ótima oportunidade de sair da zona estagnação (não consigo chamar de zona de conforto, porque se te aprisiona, não pode ser confortável. Você consegue imaginar uma jaula acolhedora? Eu não.) e nos colocar à prova, ser vulneráveis.

Seja real, as pessoas reagem a isso confiando mais. Você não é suas fotos nas redes sociais, não é os filtros do Instagram e não é perfeito, mesmo que queira muito aparentar isso. Ninguém é. Não permita que seu ego sabote você. A vida não é perfeita como dizem nos comerciais e nas postagens da sua timeline. Ela tem altos e baixos, todos precisam de apoio e você pode passar por momentos difíceis. Se for o caso, peça ajuda e deixe-se ajudar. Um dia, talvez, com sorte, você terá a chance de retribuir.


Não Se Diminua

Esse conselho é especialmente importante se você estiver passando por um momento difícil. Se estiver desempregado ou muito interessado numa oportunidade específica. Não se diminua, nunca. E esse tópico não contradiz o anterior. Quando nos colocamos em uma posição inferior também estamos alimentando o nosso ego. Ele nos diz que não somos tão bons, que somos vítimas das circunstâncias, que precisamos parecer menos para sermos aceitos. Isso é mentira, é vaidade, é tolice. Você não é mais e nem menos do que ninguém. Não importa a condição em que se encontre.

Aja com simplicidade, com humildade, mas nunca rasteje. Jamais, em hipótese alguma, se diminua. Não viole sua consciência. Lembre-se de que você tem valor, tem algo a oferecer e pode honrar qualquer ajuda que venha a receber com sua atitude, com seu trabalho, com seu caráter. Seja o que for que você está vivendo, quando essa fase passar, estará mais forte, mais maduro. Respeite-se porque você merece respeito.


Ofereça Antes de Pedir

Sempre que possível, ofereça algo ao invés de só pedir. Todos temos algo a oferecer, mesmo que pareça pouco, faça o seu melhor para gerar reciprocidade. Ao longo da minha carreira, lidei com muita gente que, na forma de lidar com as pessoas, passava a impressão de que tinha direito de receber algo apenas porque queria. Não faça isso, mesmo que seja apenas uma boa conversa ou uma troca de mensagens agradável, ofereça algo ao invés de apenas pedir.

Quando puder, ofereça antes, peça depois (se necessário). E sempre que for possível ajudar alguém da sua rede de relacionamentos, sem te prejudicar ou colocar numa situação complicada, faça sem reservas e o melhor que puder. Acredite ou não, um dia, pode voltar para você. Mas, não faça apenas pensando na retribuição de quem está sendo ajudado, faça pelo prazer de ajudar e pela consciência de que, se você realmente pode, então você deve. Costumo dizer que Deus nos colocou no mundo para nos ajudarmos uns aos outros, do contrário viríamos um de cada vez.


Ganha-Ganha

Quando for ajudar ou ser ajudado, pense sempre nas relações ganha-ganha. Ou seja, aquele tipo de interação onde há benefícios mútuos para os envolvidos. Por exemplo, quando um amigo está procurando emprego e outro está com uma vaga aberta, sua indicação pode ser muito bem vinda, pois ambos ganham. O amigo contratante fica feliz com a oportunidade de encontrar alguém confiável mais rápido, o amigo contratado fica feliz com o emprego novo e você fica feliz vendo dois amigos felizes.

Note, são três pessoas felizes e duas gratas, ao preço de uma conexão. Juntar pessoas com interesses afins é uma das melhores coisas que se pode fazer para construir o próprio network. Fazendo isso você cria uma rede que te vê como um agregador de valor, alguém que merece atenção e para quem estarão, frequentemente, abertos e interessados em ajudar.

Quando estiver na situação de pedir ajuda, faça o mesmo. Se possível, mostre porque vale a pena te ajudar e como se dá o ganha-ganha. Por exemplo:

"Oi Fulano, tudo bem? Temos conexão há x tempo e vi que, recentemente, a empresa XYZ publicou a vaga TAL em que eu poderia agregar muito. Parece ser para a área do Beltrano, também sua conexão. Você se importaria de encaminhar meu currículo a ele? Segue em anexo. Desde já, muito obrigado pela gentileza e conte comigo para o que precisar."

Uma mensagem sucinta assim pode ter êxito, pois mostra as relações, os motivos e facilita para o seu interlocutor, entender o que é esperado dele. Fica implícito que ele estará ajudando duas pessoas e que, em um cenário onde contratar talentos é cada vez mais difícil, a ajuda pode ser muito bem vinda.


Elegância

Ainda assim, mesmo que você faça tudo certo, há o fator "o outro". E sobre ele você não tem controle. E, que fique bem claro, nem sempre as pessoas terão interesse em ajudar você. Nem sempre você poderá contar com o suporte da sua rede de relacionamentos. Mesmo que você tenha os argumentos certos, as conexões certas e o timing seja perfeito. Ainda assim, você pode simplesmente esbarrar com alguém que não "está afim" de dar aquele "empurrãozinho".

E, pode ser até que você seja essa pessoa. Espero que não, mas pode ser. Nesses casos de má-vontade crônica, sugiro que você, pelo menos, aja com elegância. Nem sempre será necessário fazê-lo de forma direta, mas em algumas ocasiões você não terá escolha. E ser elegante quer de você antes de tudo o entendimento de que ninguém é obrigado a ajudar.

Mas além disso, elegância tem como efeito a retribuição e já falaremos disso: o mundo gira. Deixe eu te contar uma história:

Logo que comecei a trabalhar como headhunter havia uma empresa no Rio de Janeiro cujo nome causava respeito e admiração na maioria das pessoas. Era uma empresa muito rica e poderosa. Quando percebi que havia a possibilidade de oferecer os serviços de headhunter ao RH da tal empresa, fiquei determinado a conseguir isso. Liguei inúmeras vezes, sempre sendo barrado pela recepcionista. Nunca chegava ao RH. Depois de algum tempo, consegui identificar a pessoa certa para contatar na empresa e passei a enviar e-mails periódicos. Não tinha, até então, o telefone. Comecei com mensagens toda semana e depois a cada 15 dias. Nenhuma resposta.

Até que, por sorte, ao entrevistar uma profissional que tinha trabalhado na empresa, recebi o contato telefônico da pessoa para quem destinei tantos e-mails. Contei à candidata que tinha tentado contato com a profissional em questão, mas que talvez estivesse enviando o e-mail para o endereço errado. Ela me perguntou para qual endereço eu estava enviando, respondi e recebi a confirmação de que estava certo.

Bem, a candidata participou de um processo seletivo e foi muito bem. Assim, nas fases seguintes precisamos buscar suas referências profissionais. E lá fui eu ligar para o inatingível contato do RH. Tentei muitas vezes, mesmo. Até que consegui. Expliquei meu objetivo e a pessoa do outro lado da linha pediu para que eu ligasse às 16:00. Ela teria cinco minutos, disse.

Fiquei incomodado. Não pelo tempo que ela disse ter, mas pelo tom que usou. Já tinha falado com muita gente ocupada, mas aquele jeito de falar me deixou um pouco irritado, confesso. Ao ligar, segui o roteiro de perguntas que tinha preparado e recebi respostas lacônicas. Na prática, teria sido melhor não ligar. As informações eram rasas e as respostas eram basicamente "Bom desempenho, nada que desabone.".

Na quarta pergunta, perguntei se a candidata tinha reportado diretamente para ela ou para outra pessoa. Não era a pergunta do roteiro, mas eu queria saber. Se um gestor meu desse uma referência daquelas eu me sentiria mal por tê-lo indicado como uma pessoa importante. Quando respondeu que sim, perguntei se ela gostaria de adicionar algo mais às perguntas anteriores porque era importante para a candidata que a referência fosse tão informativa quanto possível.

A resposta, e eu me lembro dessa resposta como se fosse hoje, foi: "Olha, eu acho que já respondi o suficiente. Seu nome é bem diferente e vi que você me enviou vários e-mails querendo atender nossa empresa. Não gosto de headhunters e não tenho interesse em continuar essa conversa. Ah, e por favor, pare de me mandar e-mails.". Depois disso, só ouvi o som da linha telefônica. Ela tinha desligado na minha cara. Fiquei puto!

Xinguei uns 2 minutos. Que idiota, perdi aquele tempo todo mandando e-mails, fiz de tudo pra conseguir a referência e recebi aquilo gratuitamente. Me senti ofendido até. "não gosto de headhunters". Sabe quando os nazistas discriminavam os judeus, quando alguém fala que não gosta de gente negra, de gay, e do cacete a quatro? Pois então, guardadas as devidas proporções, me senti assim. Fiquei puto!

Mas, o tempo fez o que ele faz de melhor, seguiu. E com o passar dos dias, meses e anos, aconteceu de eu receber uma ligação dessas que a gente recebe às centenas ao longo da semana. Lembra aquela candidata que me indicou a referência "maldita"? Ela foi contratada no processo em que estava participando. Felizmente, as outras referências tinham sido muito receptivas e deram ótimas recomendações.

Mantivemos contato e, certo dia, ela me ligou: "Oi Rannison, tudo bem? Posso te indicar uma ex-chefe minha? Ela foi demitida há pouco e está buscando recolocação." Nem pensei, só respondi "Claro, obrigado pela indicação." Estava correndo de um lugar para outro, não fiz nenhuma relação de quem poderia ser. Quando recebi o e-mail e abri o currículo, li o nome e pensei um pouco.

Por que raios aquela moça estava indicando uma pessoa que tinha sido tão indisponível quando ela precisava? Marquei a entrevista, entrevistei a ex-chefe, uma conversa que não foi agradável. As informações eram relevantes, o perfil profissional era bom, mas a interação foi tensa, pesada. Havia uma certa negatividade, uma arrogância incontida naquela mulher.

Quando estávamos terminando a entrevista, o que pareceu uma eternidade para mim, a então candidata me surpreendeu. "Achei que você não me receberia." e eu perguntei "Por que?" da forma mais hipócrita que consegui. "Porque fui grossa com você." Confesso que pensei em dar uma lacrada: "Você pode não gostar de headhunters, mas eu gosto de candidatos e você é uma candidata.", mas poupei nós dois do ridículo que seria uma resposta dessas.

Tinha ficado ressentido, realmente. Mas quando ela falou aquilo, de repente, entendi porque a moça tinha decidido indicá-la para mim. Aquela mulher estava confessando uma derrota, uma vergonha. Nossas atitudes, quando indignas ou desrespeitosas, nos tornam reféns de nós mesmos. No fundo, sabemos a vergonha que carregamos por sermos ríspidos, ingratos ou egoístas.

A moça que me indicou aquela candidata não teria que se preocupar com aquilo, ela estava atuando com o máximo de elegância que um ser humano pode almejar, na minha opinião. Estava sendo generosa com quem não tinha lhe oferecido o mesmo. Aprendi aquilo ali, naquele momento, dentro da sala de entrevista. Me despedi da candidata e fiquei puto!

Mas dessa vez comigo mesmo, com a minha estreiteza de entendimento. Aquela mulher sofria, ela sentia vergonha pela deselegância que tinha oferecido e, mesmo sendo ajudada, eu sentia que ela estava só. Havia um ser humano na minha frente, mas tudo que eu consegui enxergar foi a rabugice, a grosseria e a arrogância. Sou grato a ela e à sua amiga pela indicação, elas me ensinaram uma lição de vida valiosa.

Dois anos depois da nossa entrevista essa profissional ainda não havia se recolocado. Tinha me telefonado duas ou três vezes perguntando sobre oportunidades, mas, infelizmente, não havia aparecido algo onde ela se encaixasse bem. E quando aparecia, normalmente, ela não estava no topo do ranking dos melhores perfis. Os headhunters que eu conhecia não guardavam amores por ela e, certa vez, numa conversa de bar, quando fui interceder por ela, ouvi a seguinte frase: "Rannison, aquela mulher é uma filha da puta! Se depender de mim não vou mover um dedo pra ajudar...".

Não importa qual seja a situação e nem quão improvável pareça que, em um futuro próximo ou remoto, você vá precisar contar com a ajuda de alguém. Faça o possível para, pelo menos, não contar com a antipatia de ninguém. Não faça coisas apenas para agradar, mas respeite as pessoas e tenha elegância quando tiver de dizer não. Porque o tempo passa e o mundo gira, talvez amanhã seja você precisando ouvir alguns "sim".


O Mundo Gira

Embora seja apenas o óbvio, vale a pena reforçar: o mundo gira. Trate todo mundo tão bem quanto possível. Deixe boas lembranças por onde passar, porque você não sabe como será o dia de amanhã. Mesmo que pareça que você está no topo do mundo e que nada pode te tocar, não deixe a sua boa sorte subir à cabeça, seja disponível. E se o mar estiver revolto, não se esqueça de que vai passar, seja forte.

Ajude e permita-se ajudar, o mundo gira, a vida muda e as pessoas trocam de lugar com mais frequência e intensidade do que podemos imaginar. Faça amizades sempre que puder e evite as inimizades, elas normalmente são mais baseadas numa falta de entendimento e capacidade de visão ampla do que em fatores objetivos. Facilite o seu caminho, plante boas sementes por onde passar.

 
 
 

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