Hired - Capítulo 18: Auto-Curiosidade
- rannison rodrigues
- 11 de jul. de 2021
- 6 min de leitura

Tudo começa com a curiosidade, com o interesse genuíno de descobrir algo. Você se interessa por você mesmo? Boa parte de nós tem mais interesse em saber o que está acontecendo fora: as notícias, a moda, os lançamentos tecnológicos mais recentes; mas gasta pouco ou nenhum tempo para entender o que acontece dentro de si. Pouca gente está realmente interessada em fazer aquelas perguntas profundas que parecem meio batidas: "Quem sou eu?" ou "O que eu vim fazer nesse mundo."
E isso é tão verdade que a gente funciona como se fosse robô. Queremos mais dados, mais informação, mais produtividade, mais facilidade, mais praticidade, mais dinheiro. Queremos mais, mas não sabemos porque e quando conseguimos, não sabemos o que fazer. Não é de surpreender os altos índices de insatisfação no trabalho apontados pelas instituições de pesquisa. Descontados desses cálculos os casos de "reclamação esportiva", ainda teríamos muita gente infeliz com o trabalho. Por que será?
Fomos orientados a pensar em trabalho em termos financeiros, quanto mais ganhamos, melhor. Porém, conseguimos o dinheiro que queremos, o carro, a casa, o cargo e, alguns meses ou semanas depois, nos damos conta de que ainda está faltando alguma coisa. É claro, seres humanos são movidos por essa insatisfação o tempo todo. Mas, não se trata da busca e sim de saber porque queremos realmente aquilo e como isso nos realiza.
Vá em qualquer escola e procure a aula de vocação ou vá em alguma faculdade e peça para se matricular na matéria de Propósito I ou Introdução ao Propósito. Melhor, não vá, estou brincando. Se você fizesse isso, ririam de você e diriam que está louco. Apesar disso, talvez essa seja a coisa mais importante que alguém pode descobrir na vida. Mas, não somos ensinados ou estimulados a pensar no nosso propósito, a seguir, estudar e nos dedicar a ser brilhantes naquilo que realmente amamos e fazemos bem.
Boa parte da infelicidade e da mediocridade humana vem justamente daí. Pergunte e você perceberá que a maioria dos pais quer para seus filhos segurança, estabilidade e uma profissão que seja reconhecida. Todos esses fatores são ilusórios. Mas você vai ouvir muita gente dizendo "Meu filho vai ser médico, advogado, engenheiro..." por acreditar que essas ilusões são o objetivo da vida humana. E de tanto ouvir isso e ver os exemplos à nossa volta acabamos realmente seguindo nessa linha de buscar as ilusões que todos buscam. Faz sentido, porque parece funcionar para as pessoas que conhecemos e, claro, é sempre possível que ao nos dedicarmos àquela profissão segura, sejamos realmente felizes.
Mas você acha que, de forma geral, as pessoas se sentirão felizes apenas estando seguras, estáveis e recebendo reconhecimento externo? É claro que não. Há várias profissões, mas nós sempre damos a algumas delas um valor superior às outras e quando fazemos isso, basicamente, nos induzimos a pensar que aquelas profissões são realmente mais importantes que as demais. Além de ser mentira, isso é falta de inteligência.
Então, quero te convidar a passar alguns minutos só sendo você mesmo. Tentando ignorar todo o arsenal de informação que te foi oferecido sobre o que é bom e o que não é. A partir de agora pense apenas com a sua cabeça e deixe-se levar mais pelo que sente e menos pelo que pensa. É isso mesmo, sinta mais, pense menos. Permita-se ficar mais relaxado e sentir o que te vem ao coração.
É isso mesmo "te vem ao coração". E não importa se você pensar que é frufru demais. Afinal, lá no final do pilar de comunicação falei que seríamos práticos e menos dramáticos. E é exatamente isso que estamos fazendo. O ser humano é mais inteligente do que a sua mente. A mente concreta é limitada e nós, de forma nada prática, decidimos fechar os olhos para isso, calar o que sentimos e seguir uma trajetória pouco inteligente que se sustenta com racionalidade, dados e blábláblá. Sejamos práticos: pensar assim é ridículo. Pra ser realmente "fora da curva", você tem que sentir tesão no que faz, e isso você sente com o coração e não com SQL.
Quando conseguirem explicar e reproduzir o amor de uma mãe com um algoritmo ou replicar a inteligência criativa de Albert Einstein com um computador, jogue esse livro fora, porque ele já estará obsoleto e não terá sentido nenhum. Mas, até lá, permita-se sentir, essa é uma parte importante da sua inteligência que talvez você venha negligenciando. Vamos exercitar a autopercepção, começando pela auto-curiosidade.
Exercício 1 - "Isso é pé de quê?"
Quando eu era criança, minha avó tinha, no quintal de sua casa, coqueiros bem altos. Desde o primeiro encontro, os achei magníficos. E minha curiosidade infantil, passou então a reparar em cada planta que eu via. Frequentemente, interpelava quem estivesse por perto com um: “Isso é pé de quê?”. Queria saber que frutos aquela planta dava. Estabelecer este entendimento na minha mente infantil, me fez perceber que cada planta, pequena ou grande tinha sua função e algo a oferecer. Todo ser humano é assim também. E é isso que vamos começar a descobrir agora sobre você.
Esteja só quando fizer este exercício. Procure um lugar reservado e, se possível, silencioso. Anote as respostas e guarde-as, elas serão importantes nos próximos passos. Dê o seu melhor. Nosso objetivo nesta unidade é esboçar um “mapa" de você. E aqui, o que vamos fazer, é como localizar a raiz de uma árvore. Todos podem ver a planta se erguendo em direção ao céu, mas nem sempre é possível ver a raiz, que é o que a alimenta e mantém viva. Localizando a raiz vamos entendê-la melhor. Só a partir daí começaremos a responder à pergunta “Isso é pé de que?".
Você pode se surpreender. Então, confie no processo. Mesmo que pareça absurdo no início, continue e vá refinando as respostas. O mundo está cheio de macieiras tentando se convencer de que são pés de jabuticaba. Dá para imaginar a frustração de um pé de maçã que acha que precisa dar jabuticabas? Pois isso acontece todos os dias. Então, responda aquilo que é você. Atreva-se a descobrir mais sobre si mesmo, sem influências externas. Essa é a maior expressão de inteligência que alguém pode almejar. Pergunte-se:
Por que a minha vida importa?
Nada de frases prontas aqui. Ejete o pensamento simplista que diz que cada vida importa, pelo simples fato de ser vida. É verdade, mas não estamos falando de uma vida qualquer agora. Estamos falando da sua: por que ela importa? Que diferença faz você existir?
Quais são os seus sonhos?
Lembre-se deles. De onde vieram? Há quanto tempo existem dentro de você? Já realizou algum? Não confunda sonhos com objetivos. Objetivos tendem a ser “para mim ou para os meus", já os sonhos tendem a ser “para nós ou para todos”. Objetivos mudam rapidamente e tendem a buscar conforto, menos trabalho, depois de alcançados. Comprar uma casa, por exemplo, é um objetivo. Eles normalmente estão ligados a receber algo. Já os sonhos tendem a mudar muito pouco, e alcançá-los costuma nos fazer trabalhar ainda mais. Criar uma casa de arte, de cultura, ou criar uma empresa que ajude pessoas a fazer algo, por exemplo, é um sonho. Eles sempre estão concentrados em entregar algo ao mundo, seja música, dinheiro ou um prédio.
Quais são as suas "armas" para alcançar seus sonhos?
Pense consigo mesmo, sem nenhuma modéstia: no que eu sou bom? Quais são os meus talentos, dons, aptidões? O que eu faço bem? Jogue fora respostas limitantes como "dormir", por exemplo. Você não é um protozoário, então se respeite e pense naquilo que você pode compartilhar com os demais. São essas "armas" que vão levar você até os seus sonhos. É preciso cuidá-las, limpá-las, afiá-las e saber exatamente onde estão para os momentos de necessidade. Quais são suas forças?
O que te impede?
Quais são os desvios no caminho para o seu sonho? Quem os colocou lá? Por que você decide se desviar em vez de seguir? Nada, além de você mesmo, te impede de alcançar o que sonha. É você quem se impõe limites todos os dias. E porque você acredita que eles te impedem, isso se torna realidade. Seja honesto com você e encare as suas desculpas, suas preguiças, suas resoluções de ano novo não realizadas. Assuma a responsabilidade.
Como o seu trabalho te aproxima dos seus sonhos?
Trabalhar pode ser mais do que uma forma de ganhar dinheiro. Pense em como o seu trabalho te ajuda a se aproximar dos seus sonhos. Conectar essas duas coisas pode ser a chave para se tornar mais comprometido, motivado e, claro, mais cativante na hora de uma entrevista (e na vida). Porque uma pessoa que entende essa conexão de maneira clara, tende a passar às outras pessoas uma maior impressão de entusiasmo e segurança.
Se a razão para responder estas 5 perguntas ainda não ficou clara para você, não tem problema. É simples. Todos nós estamos no mundo para ajudar uns aos outros. Se não fosse assim, viríamos um de cada vez. Cada um tem seu próprio jeito de contribuir, e capacidades distintas de realização. Por isso, todos temos meios de nos ajudar uns aos outros. O que esse exercício propõe é responder o que você veio trazer ao mundo, ou seja: “O que você tem para dar?” Em oposição à pergunta mais feita no nosso momento histórico “O que eu tenho a ganhar com isso?”.
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