Hired - Capítulo 17: Autopercepção - Importância
- rannison rodrigues
- 11 de jul. de 2021
- 3 min de leitura

Quando eu falo que o primeiro passo para uma boa entrevista é autopercepção, muita gente torce o nariz e acha que isso é coisa de hippie. Mas não é, não. Uma pessoa que não parou para pensar em quem é, terá dificuldades para explicar às outras aquilo que não entende direito. E, na correria do dia-a-dia, paramos pouco ou nada para pensar sobre nós mesmos. Estamos preocupados com outras coisas. Você consegue lembrar da última vez que parou para pensar nos momentos do seu dia em que foi realmente feliz? Pois bem, o objetivo deste capítulo é te provocar a pensar sobre você.
Certa vez, durante o processo seletivo para uma vaga de Gerente de FP&A (Financial Planning and Analysis ou planejamento e análise financeira), recebi feedbacks curiosos dos candidatos. Eles eram entrevistados pelo Diretor Financeiro da empresa contratante em uma das salas de entrevistas no escritório da consultoria onde eu trabalhava. Logo depois de terminarem as entrevistas, eu os convidava para um papo rápido numa outra sala, para saber como tinha sido a conversa. E nesse dia, os candidatos estavam intrigados.
“Rannison, não entendi direito. Imaginei que seria uma conversa mais técnica. Mas ele [o Diretor Financeiro] simplesmente olhou para mim, deu bom dia, se apresentou, disse para eu ficar à vontade e falar sobre mim. Ele só falou ‘Me conta sobre você.’, e ficou prestando atenção. Falei algumas coisas, mas não sabia se era exatamente aquilo que ele queria. Só falamos da parte técnica nos últimos 20 minutos (de uma hora) e ele perguntou muito pouco. Fiquei surpreso. Espero ter ido bem.”. Esse foi o feedback de um dos candidatos, mas dava a tônica dos demais feedbacks. Apenas 1 deles não ficou surpreso. Por acaso ou não, esse “não-surpreso” foi o escolhido ao final do processo.
Pensei comigo mesmo, entre uma entrevista e outra, que falar sobre si deveria ser uma coisa simples de se fazer e até agradável. Esse é um tema que as pessoas dominam, certo? Qualquer um é capaz de falar de si mesmo. Mas isso não era totalmente verdade. Normalmente as pessoas falam sobre sua profissão, suas vitórias, suas conquistas e méritos. Falam pouco sobre seus erros, suas fraquezas, suas vulnerabilidades. Elas falam de personagens e não delas mesmas. Falam da CMO, ou do analista de contas pagar, mas quase não falam da Maria Luísa ou do Rubens.
O que aquele Diretor Financeiro causou nos candidatos, surpreendentemente, foi desconforto por ter que falar de si. E as pessoas, no geral, se conhecem pouco e se percebem menos ainda. Podem falar demais sem dizer nada, dar muitos dados e pouca informação. "Tinha pouca vida, pouca humanidade, no que elas contaram", me confidenciou o entrevistador. E eu entendi. Não é que eles não possuíssem isso, eles só não estavam acostumados a ter que fazer aquilo de “falar sobre si mesmos”. E quando digo "falar", me refiro a falar e dizer, não apenas "palavrear" coisas.
Por que "palavreamos" tanto ao invés de falar e dizer? Porque temos preguiça! Uma preguiça enorme. Hoje em dia, apertamos alguns botões e a comida chega na nossa casa, ou então, deslizamos para a direita e conhecemos nosso par romântico, é fácil. Estamos viciados nos fast food, nas conveniências e ficamos preguiçosos, automáticos demais. Por isso, se temos que parar e refletir sobre nós mesmos, sentimos vontade de gritar com alguém. “Não tem um jeito mais fácil de fazer isso?”. Não, não tem. Dá trabalho, é desconfortável, mas vale a pena. Então, ouse conhecer um pouco mais de você mesmo. Isso vai te dar algo real para dizer, ao invés de só matraquear por aí.
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.” Esta frase curta, escrita na entrada do templo de Delfos na Grécia, é atribuída a Sócrates, embora alguns também a refiram a Tales de Mileto. O significado dela é profundo e nos exorta a nos conhecermos intimamente. Isso implica entrar em contato com nossas forças e fraquezas; nossos medos e nossas esperanças; o bem e o mal que residem em nós; nossos valores e nossos sonhos. Estabelecê-los e segui-los por força de vontade é uma tarefa para a vida inteira.
O que faremos aqui, no entanto, é buscar a ponta do iceberg e trabalhar nas suas próprias respostas. Com elas vamos traçar um perfil aproximado de quem você é, segundo você mesmo. Sem fingir e nem julgar, mas sendo crítico com as suas respostas e com as perguntas que virão a partir delas. Isso ajuda muito em algo que veremos adiante: autenticidade. Durante toda essa unidade mantenha a pergunta "por que?" perto de você. E fuja das respostas prontas. Elas são como fast-food: podem até agradar o paladar e trazer satisfação imediata, mas têm efeitos terríveis a longo prazo. Vamos começar!
Comments