Hired - Capítulo 12: A Importância da Comunicação
- rannison rodrigues
- 3 de jul. de 2021
- 7 min de leitura

Tudo é comunicação. Quando oramos, tentando nos conectar com uma força maior do que nós mesmos; quando pensamos o que queremos comer no almoço ou quando escrevemos um currículo, estamos nos comunicando. Nem toda comunicação, contudo, é externa. Há certas coisas que utilizam de comunicação, mas que tem como interlocutor, nós mesmos.
Pode parecer estranho ler isso, mas a verdade é que estamos nos comunicando o tempo todo, incessantemente. Não calamos a "boca" um instante sequer. Quando estamos pensando sobre a vida, formando uma opinião sobre outras pessoas ou assistindo um filme, há uma vozinha dentro de nós que vai formando nossos pensamentos.
Quando você anda pela rua, sua postura, seu cabelo, suas roupas, seu asseio pessoal, seu modo de falar, etc. tudo isso comunica algo. Mesmo que você não tenha a intenção de fazer isso. As pessoas a sua volta estarão observando e, claro, formando opiniões. Então, como seres humanos estão o tempo inteiro pensando, falando consigo mesmos ou com os outros e, formando opiniões quase que compulsivamente, saber comunicar o que você deseja pode ajudar muito.
Por isso, o método CANN começa pela comunicação e não pela Autopercepção. Porque o último pode ser muito afetado pela ineficiência do primeiro. Isso porque nós não nos comunicamos apenas aos outros. Comunicamos principalmente, e mais sinceramente, a nós mesmos. O que quero dizer com isso é que, mesmo tentando aparentar certa coisa, uma pessoa pode ser, internamente, o oposto do que quer aparentar.
Imagine, por exemplo, uma pessoa muito insegura. Ela pode admitir ser muito insegura ou apenas criar uma personagem com a qual se sente mais segura. Essa persona pode ser agressiva, prestativa, controladora, etc. O que nos importa realmente aqui é entender que, nem tudo que as demais pessoas recebem como comunicação é a verdade que carregamos internamente.
Por isso, a autopercepção pode realmente ser afetada pela nossa comunicação. Se comunicamos ao mundo uma determinada coisa, então tendemos a nos identificar com ela e a partir daí nossa autopercepção sofre tanto que poderíamos fazer exercícios sobre o propósito de uma personagem ao invés de focar o esforço em entender, por exemplo, o que faz de nós (e digo, quem verdadeiramente somos) realmente únicos.
Dessa forma, vamos começar pela comunicação que será o pilar fundamental ao longo de todo o método, porque todo o mais se baseia nela. Naturalmente, os pilares são complementares e um precisa do outro para se manter sólido, cada um influenciando todos os demais, mas começaremos pela comunicação pelo poder intrínseco que carrega. Para ilustrar esse poder, deixe eu te contar uma anedota.
Num reino muito muito distante, havia um rei muito autoritário e que não contava com o amor do seu povo. Era repressor e sanguinário, e mantinha a ordem por meio do medo. Após anos de dominação, um jovem, querendo protestar contra o rei e incitar o povo a reagir aos abusos praticados pelo monarca, concebeu um estratagema. Demonstraria que o rei era um estúpido e daria esperança ao povo oprimido.
Na manhã seguinte, bem cedo. O rapaz, munido de um balde de tinta e pincel, foi até a rua principal da cidade, ainda vazia, e pintou a enorme estátua do rei com as seguintes palavras: "Matar o Rei não é crime". Quando as pessoas começaram a passar pelo local, a notícia correu rapidamente. Logo o séquito do rei estava diante da obra do rapaz. "Quem fez isso?" Perguntou o capitão da guarda real, esbravejando em direção a multidão e agredindo as pessoas à sua volta em busca de respostas. Ordenava à turba que se afastasse, enquanto um guarda tentava apagar a pintura.
O rapaz se deleitava à distância com a agonia dos guardas reais. Ninguém se acusou e, então, o capitão enfurecido lançou uma ameaça: se até o outro dia no mesmo horário, o autor daquele ultraje não aparecesse, ele queimaria todas as casas da rua principal. As palavras despertaram a fúria da população. À distância o rapaz via seu plano funcionar. Foi quando a comitiva real chegou ao local.
O rei ao ver o estado de ânimos e entender a situação, decidiu tentar uma outra abordagem. Apenas o malfeitor seria condenado à morte e, qualquer bom homem ou mulher que desse informações sobre o paradeiro do criminoso, receberia uma generosa recompensa. Aquele ataque à sua honra precisava ser devidamente rechaçado.
Contando com o egoísmo das pessoas, e fugindo dos seus modos extremados, o rei conseguiu causar divisão e discórdia. Em breve, lá estavam as mesmas pessoas fazendo planos sobre o que fariam com o dinheiro que ganhariam e se acusando umas às outras. A atmosfera era de tensão e fúria latente. E foi então que o rapaz se aproximou da comitiva real. De maneira quase insolente perguntou: "O que está acontecendo?" vinha carregando com ele o seu balde de tinta.
Ao ver aquilo a guarda real fez menção de atacá-lo, as pessoas ao redor ficaram atônitas com a ousadia do jovem e não conseguiram reagir de pronto. Pouco a pouco, a multidão foi tomando consciência da presença dele, passando da fúria à perplexidade. O rei olhou o balde de tinta nas mãos do rapaz e não entendeu o que estava acontecendo, ficou estupefato, com uma expressão de olhar vazio. Aquele homem estava se entregando? O que estava acontecendo? Havia um clima de expectativa no ar.
"Quem é você?" perguntou o capitão da guarda real. O rapaz respondeu seu nome e repetiu a pergunta. "O que está acontecendo?", o capitão retrucou dizendo que o rapaz estava condenado à morte, acusado de ofender a pessoa do rei. Ao que recebeu uma tréplica imediata "Mas vocês não tem que me julgar primeiro? Sou inocente da sua acusação e posso provar."
O capitão apontou para a estátua pintada com as letras em tom de vermelho vivo, mostrou a frase ao rapaz e perguntou."Foi você quem fez isso?", o rapaz simplesmente, displicentemente, respondeu "Sim, fui eu.". Imediatamente o capitão sentenciou "Então você é culpado.". A multidão que se aglomerava à volta se agitou, alguns celebrando, outros em choque, outros com pena do pobre rapaz. Se elevou uma cacofonia de vozes e só após alguns segundos, quando os guardas já se preparavam para levar o rapaz preso, pôde-se ouvir novamente a voz do jovem.
"Capitão, que mal há nisso?" perguntou o ardiloso autor da pintura. O capitão furioso fez menção de agredir o rapaz. O rei o deteve com um aceno de mão. Olhando com mais cuidado para o rapaz, o rei não via desafio ou raiva na expressão dele. Ficou confuso. Depois de alguns instantes, perguntou ao rapaz: "Você não vê mal nenhum no que escreveu nessa estátua?". E o rapaz respondeu despreocupadamente: "Não, vossa majestade."
"Pois você está sendo condenado à morte pelo que escreveu e acabou de confessar que realmente escreveu essa infâmia contra mim.". O rapaz dissimulou surpresa e ultraje, e retorquiu "Como é possível, senhor? Se tudo que fiz foi uma ode a sua magnificência? Acordei bem cedo e vim dizer ao povo, tolo que vossa majestade é o que temos de mais precioso. E que sua vida ilumina as nossas vidas."
Mais uma vez, o rei estava confuso com a situação. Lia uma coisa, via o rapaz voluntariamente surgindo para assumir o feito e no momento seguinte, ouvia que, na verdade, o feito tinha o objetivo de lhe enaltecer. Não fazia sentido nenhum. "Explique-se, rapaz." ordenou o rei. O rapaz, no limite de sua ousadia, reverteu a pergunta. "O senhor poderia me dizer, vossa majestade, porque querem me matar?".
O rei apontou para a estátua e disse: "Pelo absurdo que você escreveu naquela estátua, rapaz.", o jovem avaliou a situação e viu uma oportunidade: "Senhor rei, pela sua graça, me garante que tudo que falar daqui em diante será lei no reino? Temo pela minha vida, mas posso explicar-lhe.". O rei curioso e ansioso, imediatamente, anuiu à súplica do rapaz: "Garanto, cada palavra minha a partir de agora, será lei neste reino. Explique-se.".
O rapaz tinha conseguido o que queria. E começou explicando ao rei que, sabia que muitas pessoas ali, à sua volta, queriam sua morte. Enumerou todos os crimes, malefícios e atrocidades que o rei tinha perpetrado ao longo dos anos e, em alto e bom som, fez a turba ouvir novamente os atos odiosos do monarca que precisaram suportar impotentes. "Mas, eu senhor rei, não poderia lhe fazer mal. Sou apenas um pobre jovem com um balde de tinta. Quis dizer a todos apenas o que já sabemos, mas, como súditos covardes, fracos e estúpidos, precisamos ser lembrados todo o tempo. Por isso pintei essas palavras na estátua."
O rei parecia satisfeito e tinha um sorriso no rosto. Lembrar de seus feitos e ouvir seus súditos sendo humilhados por um igual o fazia sentir ainda mais poderoso. Mas, o fato permanecia, a pintura estava lá. Então, ele perguntou ao rapaz, "Você parece um belo jovem. Por que escreveu isso?". O rapaz, então, lançou a armadilha ao rei. Tudo que disse foi que atentar contra a sua vida é crime. Ao que o rei, orgulhoso e prepotente, respondeu: "Não foi isso que você escreveu, seu tolo." Fingindo-se de parvo, o rapaz perguntou: "Ora, então o que foi que escrevi, vossa majestade poderia ler?".
"Matar o rei não é crime." Leu o rei, em alto e bom som. "Como sou distraído, quis dizer outra coisa. 'Matar o rei não, é crime.' Felizmente, senhor rei, é a sua palavra que se faz lei no reino e não a minha.". A multidão enfurecida percebeu o que o rei tinha acabado de fazer. Todas as suas palavras, garantiu, seriam lei no reino. E acabara de pronunciar as palavras: Matar o rei não é crime.
Uma turba ensandecida começou a jogar objetos na comitiva real, em breve, naquela mesma tarde, o rei seria deposto. Seu reino de maldades e crimes chegaria ao fim e o povo escolheria um novo rei. O novo monarca,sabiamente, escolheu como um dos seus conselheiros o ousado rapaz que tinha conseguido inflamar a população e mudar a história do seu povo com apenas uma vírgula.
Essa historinha nos ajuda a entender, de diversas maneiras, porque a comunicação é tão poderosa. Então vamos falar um pouco sobre o que ela nos ensina. (Continua amanhã)
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